terça-feira, 19 de abril de 2011

A importância de uma boa definição do escopo

Vamos assistir à seguinte esquete:



A sátira tem como um de seus objetivos apontar as incoerências da realidade, apresentando-as de forma exagerada, cômica. O grupo inglês Monty Python apresenta, de forma brilhante, algo que pode acontecer com qualquer gerente de projeto que se esqueça, ainda que parcialmente dos processos de gerenciamento de escopo.


O PMBok (2008:103) define gerenciamento de escopo como os “...processos necessários para assegurar que o projeto inclui todo o trabalho necessário, e apenas o trabalho necessário para terminar o projeto com sucesso.”. Apresenta, também, cinco processos para o gerenciamento do escopo do projeto:
  • Coletar os requisitos (definição e documentação das necessidades para alcançar os objetivos do projeto);
  • Definir o escopo (descrição detalhada do projeto e do produto);
  • Criar a EAP (subdivisão do trabalho/entregas em componentes menores e mais facilmente gerenciáveis) [1];
  • Verificar o escopo (formalização do aceite das entregas concluídas do projeto);
  • Controlar o escopo (monitoramento do progresso do escopo do projeto/produto, bem como o controle integrado de mudanças).
No vídeo em questão, podemos perceber que houve uma sequência de falhas na execução destes processos, que culminaram no confronto cliente/projetista que serve de motivação para o esquete.

Sem grande esforço é fácil de inferir que os processos “Coletar os requisitos” e “Definir o escopo” foram ignorados ou conduzidos de maneira imprópria.

Se o “Michelangelo”, responsável pelo projeto, tivesse dedicado algum tempo entendendo o que estava sendo contratado, por meio da compreensão dos requisitos e da definição do escopo contratado, tal cena não teria ocorrido.

O cliente, em muitos casos, tem uma ideia do que precisa, mas pode não conseguir expressar em termos técnicos. Cabe ao gerente do projeto captar as expectativas do cliente, facilitando a manifestação dos desejos do cliente, garantindo que não haja dúvidas para nenhuma das partes. Após coletar/documentar os requisitos pode cristalizar tais desejos e expectativas na declaração de escopo do projeto.

Conforme o PMBoK (2008:115), a declaração de escopo do projeto:

Descreve detalhadamente as entregas do projeto e o trabalho necessário para criar as mesmas. (...) Pode conter exclusões explícitas do escopo que podem auxiliar o gerenciamento das expectativas das partes interessadas. (...) direciona o trabalho (...) durante a execução e fornece a linha de base para avaliar se as solicitações de mudança ou trabalho adicional estão contidos no escopo ou são externos aos limites do projeto.
A declaração inclui, de forma direta ou por referência a outros documentos do projeto os seguintes itens:
  • Descrição do escopo do produto;
  • Critérios de aceitação do produto;
  • Entregas do projeto;
  • Exclusões do projeto;
  • Restrições do projeto.
Outro ponto que devemos abordar é o “Gold plating”[2], que é inserir mais funcionalidades ou atributos ao projeto, que não constam do escopo original, com o objetivo de “encantar o cliente”. Isso fica evidente pela fala “É que eu queria fazer uma verdadeira última ceia, não é qualquer última ceia, uma última refeição ou um lanche final...”. O “gold plating” gera trabalho desnecessário e pode gerar muito retrabalho – “Não gostou do canguru? Tudo bem, eu pinto um apóstolo por cima”.

O gerente de projetos deve, então, entender o escopo, seja por meio de entrevista ao cliente, workshops com o cliente ou qualquer outro método que se faça necessário, documentar este escopo e formalizá-lo. Ao fazer isso se pode focar na execução do projeto, atentando-se para que o que foi contratado e apenas o que foi contratado seja entregue ao cliente.

Notas

[1] – EAP – Estrutura Analítica do Projeto
[2] – Alguns autores utilizam o termo “dourar a pílula” para traduzir o termo, mas como em português “dourar a pílula” significa “apresentar algo difícil ou desagradável como coisa fácil de aceitar”, e tem origem no antigo habito que farmacêuticos tinham de embrulhar suas pílulas, amargas, em finos papéis para torna-las mais atraentes para os clientes. Portanto prefiro utilizar o termo “enfeitar o pavão” ou “gold plating” mesmo.

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